
Metabolismo do cobre:
O total de cobre no corpo do ser humano é de 50-100mg,
sendo a ingesta de 2-5mg (dia), através de mariscos, carnes, legumes e
chocolate. De 50 -70% do cobre é absorvido no intestino e transportado para os
hepatócitos, onde serão incorporadas a enzimas e proteínas de ligação do cobre,
como por exemplo a ceruloplasmina.O excesso de cobre forma com a
apo-metalotioneina complexos chamados cobre-metalotioneina , ou simplesmente
pode ser excretado na Bile. (95% da excreção é feita pela via hepatobiliar).
Etiologia:
Essa doença ocorre devido a um defeito no braço
curto do cromossomo 13 afetando um transportador de cobre (uma ATPase) que é
produzida pelo gene ATP7B. Há um defeito na incorporação do cobre pela ceruloplasmina e também na excreção
pela bile.
O excesso de cobre no organismo leva a formação de
radicais livre que oxidam lipídios e proteínas, inicialmente causa lesões nos
hepatócitos e com os aumentos dos níveis de cobre cai na corrente sanguínea
acumulando em outros órgãos.
Epidemio:
Nos EUA a fre
quência de portadores é de 1:90
indivíduos e a prevalência é de 1:30000 indivíduos. No mundo a incidência é de
10-30 milhões de casos e portador é 1: 100 indivíduos. A apresentação
fulminante é mais comum em mulheres.
Um estudo alemão mostrou que os indivíduos que
apresentam a doença precocemente terão mais sintomas hepáticos enquanto os que
apresentarem mais tardiamente terão mais sintomas Neurológicos. Além disso, a
faixa de idade acometida de maneira geral é dos 5 aos 40 anos.
Quadro clinico(QC):
A doença Hepática ocorre em mais da metade dos
pacientes se apresentado em 3 formas:
- Cirrose Hepática (A mais comum apresentação inicial)
- Hepatite crônica
- Hepatite Fulminante
Como a doença hepática é frequente é importante não
esquecer dos Estigmas da cirrose:
- Ascite e circulação colateral
- Aranhas Vasculares,
- Eritema palmar
- Hematêmese
- Icterícia
Quadro Neurológico:
A maioria dos pacientes com esses sintomas já tem
cirrose hepática.
Os sinais resultante da deposição de cobre (nos
gânglios basais )são:
- Sialorréia
- Disfagia
- Distonia
- Incoordenação
- Dificuldade com tarefas motoras finas
- Fácies em mascara
- Os distúrbios da marcha
A apresentação mais comum é o tremor
assimético(Metade dos pctes.)O tremor pode ser de repouso, postural ou relacionado
com o movimento. 98% dos pacientes com sintomas neuropsiquiátricos que não
receberam tratamento (Quelação) tem os Aneis de Kayser-Fleischer.
Mais o que são os Aneis de Kayser-Fleischer?
![]() |
Observe as setas marcando o Anel de Kayser- Fleischer |
Os anéis de KF são formados por uma deposição de
grânulos eletrodensos na membrana de descemet no limbo da córnea. A cor varia
de ouro esverdeado a acastanhado.Podem
ser vistos a olho nú ,com oftalmoscópio, lâmpada de fenda ou ginoscópio.É
importante notar que os Anéis de KF só são sinais patognomônicos quando associados
a manifestações neurológicas, pois podem ser observados também em doenças
colestáticas crônicas. Os grânulos são bilaterais e inicialmente se depositam
no polo superior da córnea e depois no inferior para só então se depositar
perifericamente.
Entre os sintomas precoces temos: dificuldade em
falar, salivação excessiva(Sialorréia), ataxia, fácies em máscara e alterações
de personalidade. Já entre as manifestações tardias temos distonia,
espasticidade, convulsões, rigidez e contraturas(flexão).
Alguns autores dividem o quadro neurológico em
quatro categorias:
- Parkinsonianos (45%) - distinguido por escassez de expressão e de movimento
- Pseudoscleroticos (24%) - Se tremor semelhante a esclerose múltipla
- Distonicos (15%) - Caracterizado por hipertonia associado com movimentos dos membros anormais.
- Coreicos (11%) - Predominantemente, caracterizada por movimentos anormais associados com distonia coreoatetóides.
Quadro Psiquiátrico (10 – 20% dos pacientes):
Os sintomas mais comuns são: labilidade Emocional,
impulsividade, desinibição e auto agressão. Podemos dividir em quatro
categorias básicas as anomalias psiquiátricas:
Comportamental, Afetiva, Similar a Esquizofrenia e
Cognitivas.
Muscoloesquelético:
São sintomas comuns. Mais da metade dos pacientes tem
osteopenia na radiografia comum.Também podem apresentar (20-50% dos casos) uma
artropatia que surge geralmente no curso final da doença, após 20 anos de
idade, afeta coluna e grandes articulações. Osteocondrite dissecante,
condromalacia patelar e condrocalcinose também têm sido descritas.
Hematologico:
Anemia hemolítica é encontrada de 10-15% dos
casos.(Hemólise por lesão oxidativa, pelo excesso de cobre).
ATENÇÃO:
Em TODO Paciente com Anemia Hemolitica com Combs
Negativo, com elevação das enzimas hepáticas , com fosfatase alcalina baixa ou
proporção da fosfatase alcalina para bilirrubina inferior a 2 deve-se pensar em
Doença de Wilson.
Renal:
Os genes defeituosos da DW se expressão também nos
rins, por isso a lessão pode ser primária ou secundária(Pelo acumulo de cobre).
Pacientes podem se apresentar com a Sindrome de
Fanconi, com urolitiase( 16%, resultado da hipercalciuria ou pobre
acidificação).Hematúria nefrocalcinose e são relatados, e proteinúria e
peptiduria pode ocorrer antes do tratamento, como parte do processo de doença e
após a terapia, como os efeitos adversos da D-penicilamina.
Doença de Wilson Fulminante:
O quadro pode ser diagnosticado pela combinação:
Transaminases baixas, fosfatase alcalina baixa, hemólise e Síndrome de Fanconi.
Diagnóstico Diferencial(DDx):
Hepatites e Cirroses, adenoma hepatocelular,
Esclerose múltipla, Doença de Huntington, Parkinson, Deficiência
α1-antitripsina e Hemocromatose hereditária
Exames complementares:
Os Aneis de KF com níveis de ceruloplasmina < 20mg/dL
em paciente com sinais e sintomas neurológicos sugerem DW.Em pcte com
hepatopatia isolada com cobre hepático(biopsia) > 250mcg/g de peso seco e
baixo nível de ceruloplasmina o diagnóstico está feito. Portanto em pctes sem Anéis
de KF ou sintomas neurológicos a biópsia é essencial para o Diagnóstico.
Ceruloplasmina
Ela só aumenta a partir dos 2 anos de idade, 90% dos
pctes vão ter < 20mg/dL (Normal 20-40), lembrando que ela é um reagente de
fase aguda (portanto aumenta com inflamação hepática, a gravidez, o uso de
estrogénio, ou infecção). Ela pode estar falsamente baixa em estados de
deficiência proteica. Além disso ela pode estar baixa de 10 -20% dos
Heterozigotos sem significado clínico.
Excreção urinária de cobre
Em geral >
100 mg / d em pctes sintomáticos (Normal <40 mg / d ), porém pode se elevar em
outras doenças colestáticas. Não é indicado como teste de rastreio, porém pode
ser usado para avaliar resposta ao tratamento com quelante.
Concentração de cobre hepático
Este ensaio é considerado como o critério padrão
para o diagnóstico da doença de Wilson. A biópsia hepática com tecido
suficiente revela níveis superiores a 250 mcg / g de peso seco, mesmo em
pacientes assintomáticos. A concentração de cobre hepático normal ( 15-55 mcg /
g) exclui efetivamente o diagnóstico da doença de Wilson. Uma concentração
elevada de cobre hepático pode ser encontrada em outras doenças hepáticas
crónicas (principalmente colestática).
Podem ser usados também testes genéticos, e cobre
radiomarcado para auxiliar no Dx.
Confira o Algoritmo
Exames de imagem também tem achados:
TC – Lesões Bilaterais no Ganglio da Base
RM = + sensível e Precoçe que a TC. Lesão em “Face
de Panda Gigante”
PET – Redução da Atividade cerebral em gânglios da
base.
Achados Histológicos Hepáticos:
As primeiras alterações detectáveis com
microscopia de luz incluem a deposição de glicogênio nos núcleos dos
hepatócitos da região periportal e esteatose moderada. Apesar consistentemente
elevados níveis de cobre hepático em pacientes com doença de Wilson, coloração
histoquímica de biópsias hepáticas de cobre é de pouco valor diagnóstico. A
taxa de progressão da histologia do fígado a partir de infiltração lipídica
para cirrose é variável, Pode ocorrer com ou sem inflamação hepática. O padrão
histológico é um de uma cirrose de micro-macronodular macronodular ou mista,
com septos fibrosos (contendo predominantemente os tipos I e III, colagénio). O
Carcinoma hepatocelular é extremamente rara em pacientes com doença de Wilson
em comparação com pacientes com hemocromatose. Pode ser atribuível à
expectativa de vida significativamente reduzida em pacientes com doença de
Wilson não tratados.
Achados Histológicos Cerebrais:
Observadas alterações anatômicas brutas incluem
degeneração e cavitação, envolvendo principalmente o putâmen, globo pálido,
núcleo caudado e tálamo. Pouca correlação foi observada entre o grau de
comprometimento neurológico e os achados neuropatológicos. As áreas afetadas do
cérebro não possuem concentrações de cobre mais elevados do que as partes não
afetadas.
Tratamento:
Zinco e penicilamina são medicamentos ao longo da
vida para os pacientes com doença de Wilson.É importante estar atento para os
efeitos colaterais da medicação. Quando a quelação é iniciada pode haver uma
piora do quando neurológico e em alguns casos a terapia tem que ser
interrompida usando-se apenas acetato de zinco. Antes do inicio da terapia
devem ser solicitados exames hematológicos, bioquímica e urina.
A dieta também é um ponto importante do tratamento.
Os pacientes geralmente devem evitar a ingestão de alimentos com alto teor de
cobre, tais como o fígado, chocolate, nozes, cogumelos, legumes e frutos do mar
(especialmente lagosta). Devese tomar cuidado com água potável que tem que vir
de fontes com pouca concentração de cobre (< 0,2 partes por milhão).
Na gravidez os altos níveis de cobre podem causar
abortos e a medicação pode ser usada com segurança, não precisa ser
interrompida.
Outros medicamentos usados para tratar a doença de
Wilson incluem os anticolinérgicos, baclofen, antagonistas do ácido
gama-aminobutírico (GABA), e levodopa, para tratar sintomas de parkinsonismo e
distonia; antiepilépticos para o tratamento de convulsões, e neurolépticos para
o tratamento de sintomas psiquiátricos.
É importante se observar os sintomas e complicações
da hipertensão portal. E os pacientes devem evitar logicamente drogas
hepatotóxicas.
O Acompanhamento:
O
acompanhamento do paciente é feito com cobre urinário de 24h, Hemograma, Exames
de Urina, cobre livre sérico, função renal e hepática semanalmente nas
primeiras 4-6 semanas do início do tratamento .
Pode se avaliar a eficácia do TTo com a
ceruloplasmina ou cobre urinário.
Avaliações bimestrais são recomendados durante o
primeiro ano, seguido por exames anuais subsequentes. Em pacientes com anéis de
Kayser-Fleischer, um exame com lâmpada de fenda anual deve documentar
desvanecimento ou desaparecimento se os pacientes estão sendo adequadamente
tratados
Prognóstico:
Foi criada uma tabela de prognóstico dos pacientes
com a doença ultilizando 3 critérios, bilirrubina, TGO e tempo de Protrombina,
estes recebem uma pontuação de 0-4, sendo que se a soma der 7 ou mais o
paciente deve ser considerado para transplante hepático. Pacientes com níveis
máximos desse escore tem geralmente, segundo os estudos, morrem em 2 meses
independente da terapia adequada. O prognóstico nos pacientes transplantados
geralmente é muito bom.
![]() |
Tabela de Prognóstico |
9 Pontos Importantes
sobre doença de Wilson:
1 - Autossômica recessiva, Cromossomo 13
2 – Deficiência de Ceruloplasmina e Diminuição da Excreção
do cobre
3 – Sintomas Hepáticos (Cirrose) e Sintomas
Neuropsiquiátricos (Neuro= Ganglio da Base)
4-Afeta também: Coração, Ossos (Artropatia) ,Sangue( A.
Hemolitica), Rins(Sind. Fancone,Urolitiase)
5 - Anemia Hemolitica + Combs Negativo +
Enzimas hepáticas Altas + F.Alcalina baixa = Pensar em DW
6- D.W. Fulminante:Transaminases baixas+F. Alcalina
baixa+Hemólise+ Síndrome de Fanconi.
7 – Anéis de Kaiser Fischer + Sintomas Neurológicos =
Patognomônico
8 – Biopisia Hepática (Concentração Cu Hepático) Confirma Dx
9 – TTo: Penicilamina + Zinco + Dieta + Transplante (Em
Casos Selecionados)
- Medcape.com
- Goldman L, Ausiello D. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 22ªEdição. Rio de Janeiro:ELSEVIER, 2005
- Merle U, Schaefer M, Ferenci P, Stremmel W. Clinical presentation, diagnosis and long-term outcome of Wilson's disease: a cohort study. Gut. Jan 2007;56(1):115-20
Nenhum comentário:
Postar um comentário